Ás onze da noite, o vento já lhe cortava o rosto, o céu, havia sumido, deixando em seu lugar apenas escuridão, ofuscada por algumas nuvens esfarrapadas. Embora as ruas estivessem livres de pedestres, vários carros passavam, rasgando o silêncio e com ele a beleza da noite. Nada disso parecia incomodá-lo, distante, como se tivesse refugiado sua mente em outra dimensão. Naquela noite, os carros, as nuvens, tudo isso possuía pouca, talvez nenhuma relevância, nada parecia mais belo que aquela noite. As nuvens eram levadas pelo vento e revelavam estrelas de brilho cintilante, mais brilhantes do que estrelas de noites cotidianas. O céu havia nos abandonado, e estrelas apaixonadas vinham nos dizer que não precisamos dele. A Lua, enorme, que fazia os astrólogos parecerem charlatões, dizendo que a lua estava a milhares de quilômetros de mim, mas que ele podia ver claramente que na verdade estava a poucos palmos de distancia. Mas mesmo assim, algo lhe intrigava e o revoltava. Como uma noite tão especial podia passar despercebida pelas pessoas? Porque elas buscavam beleza em coisas tão fúteis, que por mais esforçadas que fossem, não se comparavam com a beleza e suave singularidade daquela noite, daquele céu com estrelas que desconheciam a cidade, mas que hoje decidiram abençoar os prédios e seus parasitas. Hoje, sairemos das nuvens para iluminar as pessoas, dar-lhes um alívio para o caos da existência. Hoje, dançaremos para o mundo, e o mundo dançará conosco, e a dança irá espantar os problemas do mundo, e os problemas do mundo serão levados a um ponto de vista cósmico, e, ridicularizados, sumirão. Por mais que exista tanta dor e sofrimento, noites como essa vem nos tomar em seu colo, nos consolando, e no embalo de seus braços, dormimos.
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