sexta-feira, agosto 17, 2007

Autista

A passos rápidos, sempre em direção de casa. Concentrado apenas em si e no que a música lhe falava, concentrado não nos efeitos, mas em todas as causas. Os motivos, a incompreensão que gerava a loucura e a sorte que levava a beleza. Era tudo motivo para que se ausentasse por um instante.
Ali no canto, como sempre, como quem se esquiva de um golpe, ele desviava os olhares. Olhava para o chão quando não queria ver o mundo, olhava para o céu quando queria fugir dele. Não era um tipo de covarde, ele não havia comprado essa luta para que fugisse de algo. Não existem competições quando você está por fora. Era um sujeito comum, com traços errôneos, com uma mente irregular e estéreo. Passeava pelos zumbidos como quem não se importa com as pedradas que leva. Levava a vida pelas emoções; hora sensatas, hora marginais. Não um rebelde sem causa. Sua causa era o mundo e a vida em si. A rebeldia era algo normal que ele via. Uma rebeldia arredia, porém breve e sem um fundo seguro. Não há motivos para apenas questionar. Tudo existe como é, e quando se é, em partes, beneficiário, para que mudar? Ele só queria que a vida passasse. A questão de ser cem por cento não lhe agradava, cada dia um grão diferente fertilizaria teu solo.
Alguns mais comuns e outros nem tanto. Cada dia que passava percebia o quanto mais introspecto ele se tornava; talvez por vergonha, talvez por medo, talvez por indiferença (opiniões geralmente não alimentam). E foi assim até o dia em que o vi dar a volta por cima de todos que riram dele. Seu tempo de recolhimento durante aquele anos todos lhe renderam o acúmulo necessário de impressões para que, assim, pudesse usá-las como antídoto. Uma espécie de faculdade mental sobre cada indivíduo daquele círculo social.
Era enquanto todos caminhavam incessantemente pelas ruas, que ele sonhava acordado olhando para si mesmo daqui há alguns anos. Era quando todos dormiam que ele construía suas teorias de vida. Suas próprias verdades que não seriam facilmente abaladas por outros tantas. Quando tantos rebeldes íam contra os fatos reais do mundo, ele apenas respirava com um ar de homem mais velho. Um homem velho que vivia ali. Não um rapaz que achava-se superior, não um mar de ignorância nem arrogância. Apenas um espectador dessa peça chamada vida.

sexta-feira, agosto 10, 2007

No Divã

Isto não é terrorismo mental, não passa de uma simples confusão crítica.
Todos estão tão certos de si que acabam se limitando, fica assim insuportável de se levar.
Eles acham que discutem sobre as causas do mundo, e tentam explicar as verdades, tentam encaixar respostas.
Uns sofrem súbitos ataques de estranhesa, que me dá nojo todas as vezes, esses parecem animais insanos prontos pra qualquer balbúrdia.
Outros são tão inconsequentes quanto meramente normais, não que eu abomine isso, eu prezo pelos meus achismos, apenas.
Sob uma capa de veludo chamada silêncio e armado apenas por sorrisos, é só isso o que tenho a oferecer à todos e qualquer um.
Certas vezes acho que sou um bobo da corte.
Quem ri comigo?
O tempo passa nas horas que não quero, e apenas me situo como um personagem nulo da história.
Mas não ser um mártire não me complica em nada. Sou feliz rindo inconscientemente.
Traga o doce nos lábios e sempre sentirá teu gosto.
Me incomoda bastante o mundo assim tão complexo; verbos que se contradizem tentando explicar substantivos que ainda não possui nome.
O básico torna-se luxo e aí diz-se sobre ser intelectual, sobre ser superior.
Eu realmente acho tudo isso uma merda.
Também não quero rotinas imbecis.
Só de pensar que a cada dia você morre e todo ontem lindo lhe faz descobrir que o amanhã pode ser eterno.
Você não dá a mínima.
O circo todo se apresenta nesta noite.
Vejam as pessoas atuando em seus papéis, o mais fiel quanto puderem;
O sábio no papel de humilde, o cristão no papel de pagão, o triste no papel de risonho, o tolo no papel de malandro.
As peças mudam de forma, mas o quebra-cabeça mantém sua forma.
Não ache que não vai me machucar só porque estou o tempo todo quieto.
Não me convoque para o que no fundo acho estranho.
Tá todo mundo vivendo numa puta loucura, estão por aí discutindo teorias de um cara qualquer.
Apenas um bêbado formado em porcaria que não me interessa, fazendo de coisas sem vida o motivo dela.
É como um apagão mental.
E aí o tesão te pega, aí você quer que tudo venha de quatro pra você.
Existem dois momentos de maravilha na vida; o que precede o orgasmo, e o outro que faz-se de sonhos.
Sexo e esperança é tudo que eu preciso.
Dizem viva dessa forma, dizem viva de outra maneira.
Mas não vivem tua vida, eles julgam o porque dele ter se matado, porém suas palavras não transmitem os sentimentos necessários.
Sentimento, verdade... tudo tão individual, entretanto tão julgado e classificado.
Deixa eu me empanturrar de filosofias idiotas, de palavras contraditórias e de tudo que eu quiser fazer.
Não é anarquismo psicológico, não.
Se eu me sentir bem indo pra igreja e dando meu dízimo eu o faço; se quiser criticar a política eu critico; se quiser me coçar no sofá vendo Faustão, me deixa assim.
Não viva minha vida por mim.
Não compre minhas palavras, apenas alugue-as.
Simplismente troque, e depois destroque.
Apenas uma coisa sem compromisso.
A liberdade está na solidão.
Se por hoje eu fumo maconha e se amanhã já ache isso digno de um fraco idiota, que se dane.
Nossas vidas se baseiam na contradição, e isso é o correto.
Quem caminha tentando a perfeição não conhece o outro lado da moeda.
Estou do lado que me mantém no conforto, não agradeço por isso.
Não faço obras de caridade, e tenho um puta preconceito contra neguinho metido a bandido.
Tenho minhas tendências de suicida.
Mas também sou um cordeirinho de deus, um novato inexperiente e com medo de tudo, que espera pra fazer, mas que sempre prefere a aula prática.
Mas e daí?
Talvez seja um dos joguinhos que todos preferem.
Julgar.
Uns por aí dizem que isso é falta de ter o que pensar.
Mas enquanto uns são felizes assim, outros apenas se fazem de sensatos mas no final do dia enchem a cara e batem punheta no sofá.
São todos porcos imperfeitos maldizendo uns dos outros.
É sempre o combate e o embate de classes.
Se você acha que o mundo vai mudar radicalmente depois que você assinar aquele abaixo assinado que o faça então, mas não se meta na minha liberdade individual.
Prefiro dormir e sonhar...
Na natureza você não vê imposições.
Você não percebe injustiça.
Pode ser isso que me incomode de verdade.
A pior arma é a sua opinião.
Uma opinião pode transformar pó em ouro.
Tem gente que até se especializa na arte da mentira, ou da retórica.
Elogiam os loucos, exlicam o comportamento humano, todos se surpreendem com coisas óbvias ditas por uma cópia.
E assim vão se seguindo os modelos.
Anarquistas de final de semana, comunistas globalizados na onda do capitalismo, judeus, lésbicas, blá, blá, blá, blá, blá.
Tudo se transforma numa entidade política hierarquizada e com leis próprias.
Assunto que não importa a ninguém.
Somente passatempo pretencioso e egoísta.
Achismos ignorantes aos olhos dos mais sabidos de alguma coisa importantíssima e vital.
Mentiras e porcaria pros revolucionários mensais.
É uma gota do chá que transborda na tua chícara.

terça-feira, agosto 07, 2007

Sobre a decepção

Dizem que quanto maior o pulo (o tamanho, a intensidade, a altura...), maior a queda, e parece ser verdade. Quanto mais se sente bem, mais dói depois. Quanto mais você se garante, maior é a repulsão de si mesmo depois da derrota.
Mas a minha decepção não é definida, nem indefinida, não sei se é real, ou se é outra coisa que me consome em minha cama antes de dormir, ou nos períodos de ócio em que a única coisa que passa em minha mente é a música e o rancor. Deve ser rancor.
A minha decepção (rancor) é algo acentuado, algo relacionado com insegurança e sentimentos de solidão, onde tudo parece lixo, onde o que eu tenho não é mais seguro, onde meus relacionamentos são frágeis e falsos.
Insegurança...
Agora sim! Acho que tenho medo de perder tudo aquilo que me parece lixo, tenho medo de perder meus falsos relacionamentos aos quais me dedico, verdadeira e puramente, de corpo e alma, tenho medo de eles não se importem da mesma forma que eu. Percebo, sim, que cada pessoa se expressa de uma forma, e que algumas só se expressão depois que a outra se expressa. É onde vem a dúvida, a insegurança. “Será que o sentimento d’outrem é verdadeiro ou será que é apenas uma resposta, culturalmente formada e rapidamente executada e expelida, por lábios puros, que para você são a única coisa que importa no mundo”.
Este sentimento é outro desprezível e egoísta, faz doer demais, faz romper demais laços de relacionamentos, mas o que acontece, talvez seja uma fraqueza de identidade, de alguém que é alguém perto de outro alguém e outro alguém longe desse alguém, ou então alguém que é alguém perto desse alguém e mesmo perto dele se transforma em outro alguém.
Mas o que é certo é que tudo é incerto, e meu sentimento, me consome a cada noite, e não sei se vou conseguir sobreviver a isto por muito tempo antes de cortar o mal pela raiz.Não sei se vou mais escrever sobre o amor, talvez meu eu-lírico o queira...

segunda-feira, agosto 06, 2007

Para Sempre

Quando a luz da noite é a mais bela perante a claridade do dia. O frio estremece como um uivo na madrugada, e bem perto de mim o céu vaga solitário; como um pai que zela o sono de seu filho. E este que não me vem, que somente me maquia com uma fina camada de sossego (sublime desespero).
E quando você deduz a tua liberdade mental como sendo a única, você também percebe que ela se torna amplamente vaga. Diante de seu isolamento as formigas caminham como fosse uma tropa; quando se está sozinho logo se pensa nas multidões. A tua imaginação lhe faz tranceder além da dor e a ilusão desencontra.
Talvez o incerto abale, talvez o medo nos mantenha vivos, como uma estufa quentinha ou uma bolha segura. E por simples descaramento temos meia dúzia de respostas cretinas para cada pergunta levantada.
Penso em partículas que somos, em parte de um sistema que vai além da Via Láctea. E se a mentira fosse a única verdade desse mundo?
Placebos tarjados de vermelho e especialistas em ilusionismo vestidos de branco, o laboratório cinzento armazena e o universo processa.
Penso que somos o quadro a ser observado, uma obra mal feita, uma história mal contada ou um microchip defeituoso. Uma palavra ordinária, amarga ou doce, indigesta ou que asacie. Estamos a mercê da cadeia alimentar. Retardando o envelhecimento - a espécia debilóide e primitiva, fantasiada de moderna, que não vive para viver, mas apenas sobrevive pra não morrer.
Talvez por isso não sejas um insistente. Por que as pessoas lutam?
Parábolas que se costuram através dos neurônios e tentam definir os teus pecados - queria ser tão somente um orgasmo eterno. Supomos as verdades para valer a vida, aceitamos mentiras para temer a morte. Na realidade fantasiosa, o sonho eterno cá está. No céu as luzes da cidade brilham e aqui embaixo as nuvens são de areia e sal.
Todos candidatos a líderes, tiranos de si mesmos.
Sobrevivamos então, às custas do amanhã, impanturrando-se de sonhos, desejando implicitamente o dia em que não mais viveremos "sonambólicamente".

sexta-feira, agosto 03, 2007

Lua

Os bons ares desta cidade encontram-se densos, neste momento. Sujos de gordura e abafados de rancor. Toda essa malvadeza um dia chegaria por aqui, não poderia ser diferente. De certa maneira é algo positivo, dá o exato contraste com o que brilhava puro por essas bandas.
Quando sento por aí, em qualquer canto, pensando na vida, aproveito para amar um pouco do céu, que hoje é estampado de metal. Aproveito para dizer: "Puxa vida, como a noite está clara, como a lua está luminosa, e como os ares estão surtindo vibrações felizes por este local." Talvez se pudéssemos ver a vida por outro ângulo não precisaríamos frequentar igrejas ou ler livros de auto-ajuda. Mas por hoje, tanto faz.
O que não é artificial? Quem sabe o que é real? Você definitivamente se prende na rotina, se torna desesperançoso e passa a atuar como uma múmia. Você se torna frio e indiferente. Todos os dias você se crucifica com o peso de sua cruz. Olhe para cima. Ria do mundo que está lá. Sentado no último banco, um breve momento que acontece, e você o ama somente porque não te faz chorar, você o chama de lindo. É uma estadia curta e sem razão para realizar.
Fico a imaginar o quão belo não era na mais primitiva comunidade humana,onde talvez o amor pudesse flutuar e o instinto caminhava livre. Era onde vivíamos apenas para viver. Um café ou um dia difícil, noite e dia são apenas horas no seu relógio. Chuva, frio ou calor são apenas previsões. Galhos secos destacando-se no azul acizentado do céu num dia nublado... você não sabe o que é isso! Não imagina o cheiro da chuva e a alegria que ela reflete, você está apenas preocupado com o pára-brisas do seu carro. Você não tem um melhor amigo! Você só se relaciona com as pessoas buscando algo em troca, não vê que o valor de alguém supera qualquer valor material. Você se ocupa com papéis, com preocupações. Você desocupa um espaço no coração de quem te ama, cada dia mais. Você acusa com um dedo, enquanto a culpa dos outros três se voltam contra você. Se lembre disso, você sempre está em dívida.
As famílias não mais se conhecem e parecem ser loucos dentro de sua própria casa, a criança se pertuba e tem pesadelos. Os valores de antes tornam-se sinônimos de um inferno.
Enquanto você se deleita com as árvores no seu caminho (que mais parece estar abençoado por tons primários do arco-íris, com cada animal que sorri e cada fonte nova de prazer que lhe é sugerida), os outros estão apenas sendo gente do mundo. A saudade bate, parece que aquele coelhinho lá na lua era seu antigo amigo. Ideologias, filosofias, teorias, leis, relacionamentos... tudo adquire um valor pífio. Suas noites de sono são felizes pois você sabe que vai viajar. E daí você embarca no navio que leva os sonhadores à sua cama de rosas. E lá você ama, foje da razão, das emoções. E depois tudo parece ter sido louco, você ri e os outros apenas o definem.
E quando há um erro aceso próximo a você, apenas o lamento se faz preciso. É bastante triste não ser perfeito. Perfeito assim como a natureza, da qual você queria fazer parte. Que tal ser um cogumelo numa floresta ecantada? Ou quem sabe uma concha no mar... E nesse desafio, as rédeas são tomadas no caminho para a outra vida. Outra dimensão, outro propósito mais coerente e sensato, o qual não seja tão impuro e infeliz. Você percebe um quê de sabedoria no suicídio. Mas sabe que está aqui por pouco tempo, e então uma esperança brilha pra você. A ordem natural da vida é a que se mantém. Um dia você morre, um dia você vive, mas você continua eterno. E não há como entender o porquê das coisas, nem como.
Agora você quer ser único, estando sozinho você está completo. Você tem a natureza, você tem a vida. Nada mais lhe chama a atenção, e você se divide ora sendo apenas um humano comum, cheio de sentimentos comandados pelo aprendizado fajuto, e ora sendo apenas parte de um processo o qual todos estão sujeitos, e é aí que você se considera feliz, porque você é deus de sua própria existência.
Nestes dias em que armazeno o máximo de mim dentro de cada certeza que me toca, sinto que vou me fortalecendo. Não vale apena, certas vezes, ser inoportuno. Quero ser tão somente como a lua - que traz luz a todos, ora pequena, ora grande, mas sempre fiel e companheira. Não distingue e não julga e, sendo assim, sempre se encontra acima de todos.