sexta-feira, agosto 03, 2007

Lua

Os bons ares desta cidade encontram-se densos, neste momento. Sujos de gordura e abafados de rancor. Toda essa malvadeza um dia chegaria por aqui, não poderia ser diferente. De certa maneira é algo positivo, dá o exato contraste com o que brilhava puro por essas bandas.
Quando sento por aí, em qualquer canto, pensando na vida, aproveito para amar um pouco do céu, que hoje é estampado de metal. Aproveito para dizer: "Puxa vida, como a noite está clara, como a lua está luminosa, e como os ares estão surtindo vibrações felizes por este local." Talvez se pudéssemos ver a vida por outro ângulo não precisaríamos frequentar igrejas ou ler livros de auto-ajuda. Mas por hoje, tanto faz.
O que não é artificial? Quem sabe o que é real? Você definitivamente se prende na rotina, se torna desesperançoso e passa a atuar como uma múmia. Você se torna frio e indiferente. Todos os dias você se crucifica com o peso de sua cruz. Olhe para cima. Ria do mundo que está lá. Sentado no último banco, um breve momento que acontece, e você o ama somente porque não te faz chorar, você o chama de lindo. É uma estadia curta e sem razão para realizar.
Fico a imaginar o quão belo não era na mais primitiva comunidade humana,onde talvez o amor pudesse flutuar e o instinto caminhava livre. Era onde vivíamos apenas para viver. Um café ou um dia difícil, noite e dia são apenas horas no seu relógio. Chuva, frio ou calor são apenas previsões. Galhos secos destacando-se no azul acizentado do céu num dia nublado... você não sabe o que é isso! Não imagina o cheiro da chuva e a alegria que ela reflete, você está apenas preocupado com o pára-brisas do seu carro. Você não tem um melhor amigo! Você só se relaciona com as pessoas buscando algo em troca, não vê que o valor de alguém supera qualquer valor material. Você se ocupa com papéis, com preocupações. Você desocupa um espaço no coração de quem te ama, cada dia mais. Você acusa com um dedo, enquanto a culpa dos outros três se voltam contra você. Se lembre disso, você sempre está em dívida.
As famílias não mais se conhecem e parecem ser loucos dentro de sua própria casa, a criança se pertuba e tem pesadelos. Os valores de antes tornam-se sinônimos de um inferno.
Enquanto você se deleita com as árvores no seu caminho (que mais parece estar abençoado por tons primários do arco-íris, com cada animal que sorri e cada fonte nova de prazer que lhe é sugerida), os outros estão apenas sendo gente do mundo. A saudade bate, parece que aquele coelhinho lá na lua era seu antigo amigo. Ideologias, filosofias, teorias, leis, relacionamentos... tudo adquire um valor pífio. Suas noites de sono são felizes pois você sabe que vai viajar. E daí você embarca no navio que leva os sonhadores à sua cama de rosas. E lá você ama, foje da razão, das emoções. E depois tudo parece ter sido louco, você ri e os outros apenas o definem.
E quando há um erro aceso próximo a você, apenas o lamento se faz preciso. É bastante triste não ser perfeito. Perfeito assim como a natureza, da qual você queria fazer parte. Que tal ser um cogumelo numa floresta ecantada? Ou quem sabe uma concha no mar... E nesse desafio, as rédeas são tomadas no caminho para a outra vida. Outra dimensão, outro propósito mais coerente e sensato, o qual não seja tão impuro e infeliz. Você percebe um quê de sabedoria no suicídio. Mas sabe que está aqui por pouco tempo, e então uma esperança brilha pra você. A ordem natural da vida é a que se mantém. Um dia você morre, um dia você vive, mas você continua eterno. E não há como entender o porquê das coisas, nem como.
Agora você quer ser único, estando sozinho você está completo. Você tem a natureza, você tem a vida. Nada mais lhe chama a atenção, e você se divide ora sendo apenas um humano comum, cheio de sentimentos comandados pelo aprendizado fajuto, e ora sendo apenas parte de um processo o qual todos estão sujeitos, e é aí que você se considera feliz, porque você é deus de sua própria existência.
Nestes dias em que armazeno o máximo de mim dentro de cada certeza que me toca, sinto que vou me fortalecendo. Não vale apena, certas vezes, ser inoportuno. Quero ser tão somente como a lua - que traz luz a todos, ora pequena, ora grande, mas sempre fiel e companheira. Não distingue e não julga e, sendo assim, sempre se encontra acima de todos.

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