domingo, outubro 21, 2007

Eixo alfa

Não existe o amor.
Não existe a verdade.
Não existe a paz.

E enquanto todos buscam incessantemente essas ilusões, a vida se esvai em seu sentido mais amplo: o viver.

Não existe o amor.
Não existe a verdade.
Não existe a paz.

Você é a única verdade, a paz interior e o próprio amor; é como abraçar o invisível, como beijar o intocável.

Não existe o amor.
Não existe a verdade.
Não existe a paz.

Enquanto buscam-nas, tornam-se mais vazios de si mesmos, e acabam se perdendo nesta estrada desastrosa.

Não existe o amor.
Não existe a verdade.
Não existe a paz.

Você se descaracteriza mais e mais, a medida em que busca nos outros o que está em você.

Não existe o amor.
Não existe a verdade.
Não existe a paz.

Viver não é teorizar sobre a vida, nem buscar fórmulas fixadas para se alcançar a felicidade; se é feliz quando vive, e se vive quando buscas somente a ti mesmo.

Não existe o amor.
Não existe a verdade.
Não existe a paz.

sábado, outubro 20, 2007

Tempos atrás

Deus te abençoe então, meu filho. E aqui deparo-me com estas fotos; reparo nos fatos e até os narro. Desde agora a nostalgia toma conta. Partindo por um bocado de impressões positivas à respeito.
Penso, quieto comigo. Meu amigo é minha melhor companhia - estar só pelo preço da compreensão. Sem que haja um amanhã desrespeitoso quanto às nossas esperanças. E é tudo que se deseja e, mantém, pelo tempo que lhe restarem as fotos.
E você torna a olhá-las com doçura.
Foram épocas vividas com naturalidade e pureza. O passado sempre é honroso - apenas memória seletiva [?]. Por dentro de cada flash existia um momento, onde os sorrisos foram retratados e o simples fato da vida foi posto como eterno. Por fora estão os teus olhos, os mesmos que há quinze anos eram cobertos pela franja fina. Olha para si mesmo, vê-se como é apartir do que era. Como num espelho, torna-se assim real a ponto de analisar o que ficou para trás.
Aonde estavam as preocupações, e por onde andava a tristeza? Estávamos à trilhos de distância do vagão que as continha. Certamente estamos bem mais perto, agora.
E a cada novo detalhe que percebe, relembra-te então. Ruas onde se podia até ter a noção da liberdade. Se hoje sonhas com o vôo irreal, ontem asteava as asas para partir.

Relembra mais uma vez, as brincadeiras. E lembra uma vez mais, as pessoas.
As quais sempre pareciam ter mais de muitos metros acima. As quais não se reconhecem hoje.
Estas fotos não conheço, não as reconheço como lembranças. Não lembro-me, cá estão a ser estranhas, pois. Pessoas não menos sorridentes, bebidas às mãos, simplicidade na aparência, mas uma nobreza inconstante nas feições. É o desenho mais boêmio que já pûde perceber.
São laços sanguíneos, e históricos. Talvez seja parte do que sou, hoje.

E todos bebem, todos de certa forma possuem simplicidade no coração. Alguns com mais nobreza, adquirida. Outros com nobreza de classe, roubada. Mas todos com um quê de benevolência.
E eles também observaram as estrelas uma noite, e todos eles admiraram a natureza, fazendo sexo com o cosmos e brincando com os sentidos. E todos olharam as fotos, esta noite.
Quando sonhamos estamos a sermos observados, lá do futuro. Um retrato não permitido.
E quando olhamos para trás, sonhamos o inverso, sonhamos o que não podemos cogitar, jamais. E é por isso que às vezes dói. Da mesma forma que olhar para o futuro conforta.
Meu presente torna-se estéril então.


(...)

domingo, outubro 14, 2007

Algodão Doce

Já não me importa, e não convém; tua face é velha conhecida do meu despreso.
E sempre o foi, desde o primeiro falso sorriso que eu proferi.
Assim, então, de relance como uma previsão sobre quem eras tú.
Mas não serei capaz de julgar-te uma vez mais, de costume apenas lhe deixo a minha antipatia sádica.
Já não me importa, e não convém; todo o teu charme que te compra, mas a sinceridade que não lhe é amiga já me adiantara muito sobre tais promessas.
E tua boca repele, apesar de absurda tentação, joga para lá todo bem que podia beijar-lhe as maçãs.
É manhã e já estás obscura, tão quanto és a noite que abita minha calma.
E o que importa a ti, e convém? Se mil preceitos desejosos negam o conhecimento a longo prazo...
Se é assim que se encaminham as formas, não desejarei uma vez mais tê-la primeiro. Impressão que fere.
É a fagulha do pote dourado que rabiscara há tempos remotos; tão receosos foram as intensões de pintá-la com traços reais e inteiriços.
Mas ainda não brilhou o último fio da esperança. Tal qual tingiste minh'alma com despeito.
Mas ainda não raiou a infinita paz. Como dante esperei.
Já não me importa, e não convém; olhá-la breves instantes apenas para sugerir estarmos ao lado um do outro.
Senti-la como se sente o espírito divino... simplismente como a droga que alimenta a todos de breve euforia e o mais tolo dos pesares - repentina felicidade.
E o que pensas ti, neste mar de opções? Não lhe compro a certeza de estar sequer um momento contínua.
Não lhe vendo as impressões românticas.
Já não me importa, e não convém saber de ti.