domingo, julho 29, 2007

Estou indo embora, para casa

Às vezes, quando me pego acordado na madrugada,
De roupão e chinelos,
Tomando whisky e fumando cubanos,
Pensando no passado, fazendo ligações entre o errado e o certo.

Às vezes, quando me sinto solitário,
Ouvindo meus vinis clássicos de rock’n roll e bossa nova
Sentado em frente a minha velha lareira, em minha cadeira de balançar,
Tentando me aproximar da música, tentando imaginar onde você está.

Meu pensamento me guia distante,
A lugares onde certamente você não estará:
A pesadelos cruéis, insaciáveis como vida;
E sonhos feitos de mais pureza e inocência do que a própria morte.

Enquanto caminho em direção ao túnel iluminado,
Encontro uma maneira de te encontrar,
Penso em tua pele, no teu cheiro e teu abraço,
Penso nos seus beijos, sua boca, meus desejos.

Penso em como a vida é boa ao seu lado,
Em como estar com você me faz bem, me faz querer mais,
Penso em como seria bom ter você pra sempre,
Por mais que o pra sempre seja curto demais.

Por mais que eu tente e que eu invente,
Por mais que eu procure explicação,
Não houve, nem haverá, sentimento de mais louvor,
Que vem da alma e arrepia a espinha,

Que queima de desejo e se esvairia pelo peito,
Que some num beijo quente, por mais que eu tente,
Nunca haverá, dentro do coração, mais forte emoção.

sábado, julho 28, 2007

Amigo

Esta talvez não seja uma documentação brilhante de uma mente criativa, e talvez não seja fiel as verdadeiras intenções. Esta pode não ser aquela que poderia ser, e nem é o que fora quando era aquilo. Não é suja de teorias e nem límpida de simplicidade. Não é venenosa de opiniões, não é quebrada de emoções.
É de como se espera o dia levando a noite, é assim que se é. Como sempre foi.
O final se vê pela janela e o preço da coragem é pago em prestações alcoólicas. Na pequena diferença onde residem as grandes particularidades. Semanticamente diferenciados. A moral e a sabedoria.
Conceitos que nos fazem admitir relações e nos tratar apenas como seres específicos, limitando-se no limear de nossa eterna inocência. A ignorância é múltipla aos olhos de um revoltado, e pode até ser real quando não se enxerga com olhos de pirata.
É apenas o extremo que se toca de sua burrice e a generalização que é sempre apressada. O equívoco caminhando na velocidade da luz, é a própria estrada. São os tempos da ciência onde perduram as ações inexatas.
É a coesão e o declínio de um santo que caminha com o manto púrpura. É a abdicação do imperador. São causas raras de acertos oportunos. É o nada que se diz tudo e se fantasia de pouco - como se ele não fosse o bastante para o insuficiente.
A conversa silenciosa e o segredo de um mudo, a confiança do não dizer numa conversa amiga.
É o mesmo fluir da dança que toca as tuas cordas vocais naquele dia em que você se sente belo.
É apenas o mais simples dessa Terra, e é o menos complicado. Que não indaga, que se contradiz, o que acredita ser feliz, e por isso é.
Ele é o exagero que se faz nas comemorações, e é a economia que se faz antes delas. Têm o mesmo rótulo que fantasia nossas impressões, e a mesma influência dos livros milenares. É o lado da moeda que se mostra cinco vezes seguidas após arremessá-la de um prédio. É o dia que se fexa e a noite que o teme.
Com o mesmo doce do sabor da sua paixão, ou mesmo o calor da sua mão. O mesmo terror de uma doença. A mesma cartada de uma vitória, por mais tola ou simplória.

quarta-feira, julho 11, 2007

Sonhos e pesadelos

Noite passada tive um sonho,
Um sonho um tanto estranho, por sinal,
Lembro-me de ter assustado, e como,
Lembro de várias coisas, apenas não distinguia o bem e o mal.
Lembro-me de passar pela avenida principal,Uma velhinha e seu cachorro, passeando,
Lembro de casais, no parque se beijando,
Enquanto as crianças se encantavam com as luzes de natal.
Passei por uma rua escura, que dava nos fundos de casa,
Estava frio, o tempo era nebuloso, a noite era clara,
Senti uma sensação estranha, do nada, de repente.
Frio na barriga, logo um arrepio na espinha,
Entrei em transe profundo e desmaiei,
E foi a partir daquele momento que abri os olhos para a vida.
Dois garotos, em duas calçadas divergentes,
Parecia que viviam em dois mundos diferentes.
Um de boné, bermuda da moda e tênis de molas,
O outro com um cobertor velho, algumas moedas e uma lata de cola.
Um pouco à frente, na mesma rua,
Uma mulher bem vestida, de salto alto e agasalho.
Na outra calçada, conversando com um homem já grisalho,
Uma garota, em seus quase dezoito, seminua.
Hoje é o que importa: roupas de grife e relógios de marca,
Enquanto ali perto a guerra nunca acaba.
Se não comprar um Audi a sociedade te recrimina.
Ninguém se importa com os bebês que são queimados devido a falsas doutrinas.
Fome, violência, nada disso faz sentido...
Se não tiver um celular ou uma câmera digital para fazer um vídeo.
Quem quer saber de câncer, aids, hiperglicemia ou diabetes,
Quando se pode ter em apenas um chip: músicas, fotos e sistema gps?
“Paz e amor” não existem mais,
Ideologias de vida não existem mais
Modo de vida e segregação:As pessoas agora lutam pelo poder e obsessão.
Essa é a pergunta que não quer calar: “Até quando isso tudo vai durar?”.

segunda-feira, julho 09, 2007

Memórias

Naquela mesma calçada em que eu costumava brigar, após muitos goles de cerveja, me lembrei dela. Sentado no banco da única praça que ficava bem no meio da rua movimentada. Olhei as estrelas, que naquele dia pareciam estar mais alegres. Reverenciei minhas lembranças como num ataque ao passado.Era ela, com teus cabelos lisos que caíam por sobre os ombros e a pele macia que mais parecia um anjo. O doce perfume que me fazia suar frio toda vez que lhe dirigia a palavra. Ela era, quente e sensacional, sua voz me acalmava profundamente e sua presença me completava.Dela nunca mais recebi notícias. A última vez em que a vi foi no aeroporto, quando se despedira partindo para a Australia. Com muitas saudades eu fiquei, e guardei em silêncio os meus desejos que não pude realizar.Na época de nossos 15 anos fui um cara muito retraído. Tinha medo que as pessoas me rejeitassem por ser aquele jovem esguio e cheio de espinhas. Como sempre, ela cercada pelos caras populares da escola, sempre a mais desejada. Éramos amigos, apesar das circunstâncias. Na escola não nos falávamos muito, mas morávamos no mesmo bairro e isso sempre foi uma oportunidade para manter nossos laços. Guardava só comigo aquele bobo desejo, a paixão adolescente que eu nutría por ela era algo novo e puro; bem, nem tão puro assim.
Nas festas que havíam eu costumava ficar em casa lendo algum livro ou ouvindo algo na rádio progressiva. Quando resolvía sair de casa para ir a lanchonete aos sábados por exemplo, ficava lá no fundo onde ninguém pudesse perceber que eu estava ali. Pensava que tudo ía passar rápido e logo eu ganharia muito dinheiro. Com isso podería comprar qualquer mulher que a revista "vendesse". Porém, o tempo foi cruel.Além de linda e minha melhor amiga, ela era uma ótima aluna. Tanto que, no verão do mesmo ano em que eu acabara de completar meus 18 anos, ela recebeu um ótima notícia. Para mim, o fim. Uma bolsa para estudar fora, em uma das melhores faculdades que havia no país. Na tarde daquele dia sai mais cedo que de costume da escola, foi a primeira vez que corri para uma taberna que ficava logo ali, no fim da rua. Posso dizer que afoguei as máguas, e meu primeiro porre foi regado a lágrimas.Na manhã seguinte a notícia, fui a casa dela. Ela me recebeu e ali conversamos a manhã inteira. Aproveitei para almoçar lá mesmo. Como se não bastasse tudo de bom, sua mãe ainda me adorava.Joguei conversa fora e, com elas, minha esperança. Ela partiria já no final de semana.No dia do embarque me atrasei, todos estavam no aeroporto. A turma do futebol, suas belas e ricas amigas, e eu. O único diferente. Olhei de longe e ela veio me dar um último beijo. O mais amargo e frio que pude sentir em toda minha vida. Ela foi embora, levando todo o meu apreço e firmeza.Os anos se passaram, e eu consegui me formar. Não em medicina, mas em veterinária. Era algo regular que me mantinha vivo. Como uma ferida que nunca cicatrizou eu fui vivendo os meus dias.Não sei porque raios estou aqui lembrando dela, de minha paixão adolescente. Logo hoje, onde todos estão a festejar o ano novo. Eu aqui, largado em qualquer canto desta pequena cidade que já se move com ares de metrópole. Lembrando dela, daquele sorriso que nunca se apagava, daquele olhar fixo em mim. Não sei porque diabos... MEU DEUS!!!"
- Acho que agora, conversando com meus pensamentos posso perceber o quanto me desgastei por algo que não me pertencia. Distraído, sofri um acidente que quase custara minha vida, mas levou consigo minhas pernas e toda minha consciência. Vagando neste universo irreal, onde palavras ecoam sons que não se distinguem, eu desejo apenas uma trégua. Ao tempo, que não mais volta, mas que me leve o quanto antes, pois vivi toda minha vida apoiado em esperanças imbecis e agora não me resta mais vida para planejar algo, quanto menos esperar...