segunda-feira, junho 25, 2007

A Arte da Guerra

"Éramos cem mil. Dia sangrento, areia e carne desfilavam nos céus.
Sob o comando de nosso rei batalhávamos incansavelmente. Como unha e carne seguimos unidos. Guerreiros que asteavam a bandeira da honra e da coragem. Mártires respirando vingança sobre os cavalos. Além do horizonte estendiam-se
as faixas inimigas. Aproximadamente o triplo de nossos exércitos. Naquele dia senti realmente um entusiasmo fora do comum. Todos já haviam lutado durante três dias. Noites terríveis enfrentamos juntos. Passamos frio e fome para chegar até aqui. O topo de nossa esperança.
Aproximava-se o temeroso exército de bestas do inferno, que jorravam litros de terror de suas bocas assassinas. Distantes de nós, já escutávamos teus grunhidos insudecedores. Pareciam pedir arrego, ao mesmo tempo em que nos desafiavam para o duelo mortal. Sanguináreos vinham sobre o lombo de porcos que mais pareciam elefantes.
Os homens do senhor de Deus estavam prontos para a batalha final. O exército se alinhou. Como num jogo de xadrez cada fronta tomou o teu lugar. O jovem Rei também lutava conosco. Teus fiéis homens nos encorajavam, com votos de irmandade. Via nos teus olhos a força ofuscando o medo - a necessidade de custear a esperança através da espada. Era o que precisávamos naquele momento de temor e tensão.
Já havíamos derrotado a primeira fronta. Milhares de bestas enfurecidas com tuas armas, tanto quanto rudimentares, sem nem um pingo de medo ou compaixão. Alimentados pelo sangue frio de seu diabólico líder. E agora estávamos diante de nosso mais poderoso inimigo. Que se aproximara mais um pouco.
Já eram tomados os postos, os arqueiros puseram-se em posição de ataque. Esperaríamos até o último momento para atacar com força total. Conhecíamos nosso território, sabíamos exatamente o que era necessário para o menor número de baixas. Então, eis que as flechas puseram-se a lançar-se pelo ar. Leveza e fúria.
Se observara as primeiras baixas, que não representavam nada perante o numeroso contigente de monstros armados. Segunda leva e segunda caída. Terceira e quarta seguiram-se.
Vieram de encontro, como um choque de bestas senti todo o peso de suas fúrias. Estava na terceira fileira e tomado de plena virilidade peguei minha espada e só olhei para o distante. Bravo guerreiro sustentei corpos caíndo em mim, não me abati. Litros de sangue jorravam na minha cara, pedaços de orelha e víceras acumulavam-se nos meus braços.
Seguimos em frente, confrontando o comando infernal. Escalava uma montanha de corpos, antes mesmo de dar o primeiro metro. Foi quando as trombetas dos portões tocaram. O inferno se espandiu perante os homens. Um calor que derretia, parcialmente, nossas armaduras.
O choque entre guerreiros foi tomando forma, quando percebíamos que chegávamos mais perto de nosso destino. Dali em diante já não havia consciência, era tudo automático. Heróis em seu curso.
Quando dei por mim, já não havíam mais reservas lá no final da montanha. O que viría pra nós era o que esperávamos a tanto tempo. Pouco a pouco, um a um, tudo terminou. No lugar da água, sangue, no lugar da brisa, odor, no lugar dos campos, pedra. É incrível como havíam cabeças naquele lugar. Você ainda podia ver as mãos se moverem.
Nosso rei seguiu agora a frente de nós. Contrastando com o por do sol víamos nosso líder lá na frente. Tomamos a cidade, e tudo que nela havia. Peças de ouro, esculturas antigas, escrituras de um povo bárbaro talhadas a sangue negro. Sentíamos que o êxtase passeava entre nossas almas. E naquela tranquila noite, festejamos como reis de nós mesmos. Carne fresca e suculenta, cerveja e belas damas. Tínhamos o estoque de escravas necessárias ali para assaciar a perversidade de cada um. O padre nos abençoou aquele dia. Regidos pela força divina através do rei, nos tornamos os mais bravos homens daquela região."

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