quinta-feira, junho 21, 2007

A Retórica Detentora

Sentem-se à mesa cavalheiros, apresentarei agora o saldo trimestral de nossas vendas.
Senhor, por favor, queira permitir uma pré colocação.
É conhecida por todos a tendência inflacionária de nossa economia.
Lucros não nos garantem nada, aplicações se tornam cada dia mais necessárias. O amplo conhecimento em setores de crescimento econômico torna-se uma necessidade emergente no plano atual. Quero-lhes apenas destacar um seguinte ocorrido, caros amigos. Na tarde de segunda-feira, dia 12 deste mesmo mês de abril, nossos contadores apresentaram à diretoria um desnivelamento obtuso e exponencial, referente ao acréscimo de quantias oriundas de movimentações suspeitas e desconhecidas pelo referido e aqui presente, presidente Edgar Piazza de Castro. Ressaltando claramente à vossos que se atentam à mim neste momento, quero-lhes ainda deixar, além dos fatos apresentados, uma possível evidência e, posterior prova de que, a quebra de sigilo fiscal e bancário, avaliação de extratos financeiros e levantamento de gastos efetivos nos últimos três meses do senhor Delpúdio Costa, confirmam por excelência que todas as suspeitas recaem por sobre as costas do mesmo.
Algo em sua defesa, caro companheiro?
Vejam bem senhores, uma empresa como a nossa - com tamanha influência no cenário nacional e até internacional, com meio século de existência e de relativa corporação jovem e atualizada, em pleno processo de competição a nível global - exige parâmetros de defesa que, talvez, não se enquadrem apenas em efetivas aplicações legais. É visto que os exércitos mais gloriosos de nossa história se empenharam de tal maneira a não só absorver aquilo de que todos os outros pudessem da mesma forma usufruir, mas também utilizar de todos os meios atingíveis e inalcancáveis para que, dotado de extrema sordidez mascarada pela obscuridade da doce humildade, aflorascem na montanha mais singular que houvesse por sobre as estrelas. Deixo firmado aqui, meu compromisso de fé e honra para com esta empresa, porém, assumo que dia desses prostrado por sob minhas próprias asas abaladas de fraqueza cometi um erro fadonho, financeiramente falando.
Entendemos tal situação. Sabemos que tais condutas não se adequam ao quadro político da empresa; que visa o bem estar social, lucrando apartir do desenvolvimento sustentável e, deixando bem claro a qualquer cidadão interessado, as forças contratuais que regem a ética trabalhista de nossa corporação. Contudo, ao meu ver, você - um dos mais antigos funcionários da empresa - não é a única cabra ferida deste rebanho engravatado. Certamente outras virão e a necessidade de uma punição exemplar torna-se quase que, como uma obrigação encarregada sobre minhas costas. Mas, sob a bandeira da fidelidade e do perdão cristão, quero que saiba que desta estás livre. Mas que também não sejes uma carta-branca a vagabundez itinerante neste local santo de trabalho. Valorizo, acima de tudo, a importância de cada um, e o julgamento de cada conforme a tua importância. Discursos de igualdade perante a lei não se valem quando as necessidades são postas em jogo.
Corporativismo mais descarado que este só se vê no Senado, meus amigos. Retiro-me desta reunião com a idéia de missão cumprida - os fatos apresentados. Entretanto, não me vejo sentado na mesma cadeira junto de uma corja de assalariados mesquinhos que se dizem os reis do mundo por suas leis internas que adequam-se a cada bandeira de sangue. Isso não é família, está mais para uma quadrilha armada por discursos infalíveis e de pronta persuasão.

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